A média de idade das pessoas identificadas como vítimas da ditadura militar brasileira é de 32,8 anos, sendo que a maior parte delas, cerca de 77,4%, tinha entre 18 e 44 anos. Dentre as vítimas, quase metade (49,3%) estava na faixa de 18 a 29 anos. Essas informações são parte de uma nova análise realizada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que revisita os dados coletados pela Comissão Nacional da Verdade entre 2012 e 2014. Esta comissão investigou as graves violações de direitos humanos que ocorreram no Brasil entre os anos de 1964 e 1985.

    Após dez anos da divulgação do relatório da comissão, que identificou 434 pessoas como mortas ou desaparecidas em decorrência da ação de agentes do Estado, o ministério busca dar uma nova visão sobre as vítimas deste período obscuro da história do país.

    Dentre as 434 vítimas mencionadas, 51 eram mulheres. Em média, as mulheres vítimas eram mais jovens do que os homens, que totalizavam 383. Um dado significativo é que 140 dessas vítimas (ou 32%) eram estudantes, o que indica uma forte repressão por parte do governo militar contra o movimento estudantil e a juventude na época. Além dos estudantes, as vítimas incluíam operários (57), trabalhadores rurais (30), jornalistas (28), professores (28), militares e ex-militares (27), profissionais administrativos e jurídicos (26), bancários (20) e artistas (19).

    Outra informação importante é que aproximadamente 37% das vítimas pertenciam a partidos políticos, enquanto 4% estavam filiadas a sindicatos. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) foi o partido com o maior número de militantes assassinados, totalizando 79 vítimas, o que representa 18,2% do total das mortes levantadas pela Comissão Nacional da Verdade. A extinta Ação Libertadora Nacional (ALN) teve 60 mortes registradas, seguida pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), com 41 vítimas.

    Os dados do relatório também estão disponíveis no Observatório Nacional dos Direitos Humanos, onde estão compiladas as estatísticas sobre as violações. As informações indicam que a repressão não foi constante ao longo do regime militar, sendo mais intensa entre 1969 e 1978, período em que vigorou o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Durante esse tempo, o número de vítimas aumentou drasticamente.

    Antes mesmo do golpe militar de 1964, já havia registros de assassinatos políticos, com 12 ocorrências nesse período democrático, mostrando que a perseguição política começava a se manifestar, embora de forma menos intensa. Entre 1966 e 1968, durante a fase inicial da ditadura, 51 pessoas foram assassinadas enquanto o regime tentava manter uma aparência de legalidade.

    Um dos eventos marcantes da repressão foi a Guerrilha do Araguaia, que ocorreu entre 1967 e 1974, quando militantes tentaram organizar um movimento de resistência armada. Este conflito aconteceu nas regiões fronteiriças entre os estados do Pará, Maranhão e Tocantins e envolveu grupos guerrilheiros do PCdoB, que buscavam apoio das comunidades locais.

    Em uma nota, Luciana Félix, coordenadora de Pesquisa e Difusão de Evidências do ministério, afirmou que os dados reunidos terão um papel importante nas políticas nacionais de direitos humanos, evidenciando a gravidade das violências enfrentadas por essas pessoas.

    Caio Cateb, coordenador-geral de apoio à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, ressaltou a importância da análise dos dados para aprimorar investigações sobre desaparecimentos e auxiliar na identificação de restos mortais que ainda não foram identificados.

    Esses dados não são apenas números, mas representam vidas que foram perdidas em um período de exceção e repressão no Brasil.

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