O ciclo de desejo e tédio é algo bem comum na experiência humana. Você já notou como deseja intensamente algo e, assim que consegue, o interesse parece desaparecer? Andressa Leal, psicóloga especializada em desenvolvimento emocional, traz uma ótima perspectiva sobre isso, unindo filosofia e psicologia para entender esse padrão de comportamento que pode causar tanto desconforto.

    Ela utiliza os conceitos do filósofo Arthur Schopenhauer para ajudar as pessoas a perceberem como a busca constante por prazer pode esconder necessidades emocionais mais profundas. Andressa vê esse “pêndulo de Schopenhauer” em várias áreas da vida, como relacionamentos, trabalho e até mesmo compras. Essas observações são valiosas, pois nos permitem refletir sobre o que realmente causa o nosso sofrimento e como podemos transformá-lo.

    Por que queremos tanto algo e depois perdemos o interesse?

    A razão por trás do desinteresse após alcançar um desejo está diretamente ligada ao funcionamento do nosso cérebro. Quando estamos ansiosos por algo, nosso corpo libera dopamina, que é como um “combustível” que nos motiva. Porém, ao conquistar o que tanto queríamos, essa dopamina volta ao normal, e, em muitos casos, isso pode gerar uma sensação de vazio.

    Schopenhauer usou a metáfora do pêndulo para explicar isso. A vida oscila entre o desejo insatisfeito e o tédio após a conquista. Na prática, isso se manifesta em atitudes como compras impulsivas ou relacionamentos que não duram. O nosso cérebro, sempre buscando novas metas, acaba criando um ciclo de insatisfação que pode resultar em ansiedade e até depressão.

    Como o consumo emocional tenta preencher vazios internos?

    O consumo emocional é nossa tentativa de lidar com sentimentos difíceis como tristeza ou ansiedade. Quando sentimos vontade de comprar algo para nos animar, na verdade, estamos buscando uma solução temporária. Essa estratégia pode até funcionar por um tempo, mas não resolve as questões emocionais que estão por trás.

    Esse comportamento se torna problemático quando buscamos constantemente a compra ou a validação externa para nos sentir bem, ignorando o que realmente precisamos. A terapia pode ajudar a perceber esses padrões, fazendo com que consigamos desenvolver formas mais saudáveis de lidar com nossas emoções e buscar o autocuidado.

    Qual a diferença entre desejar e fugir do sofrimento?

    Desejar é algo natural; é a nossa motivação para agir e crescer. Esse desejo se torna saudável quando está alinhado aos nossos valores e busca um propósito. Por exemplo, querer um relacionamento significativo ou uma carreira que traga satisfação é algo positivo.

    Por outro lado, querer apenas para fugir de sentimentos difíceis pode se transformar em dependência. Essa fuga só aumenta a nossa dificuldade em lidar com o que é desconfortável, evitando que desenvolvamos habilidades para enfrentar os desafios da vida. Aprender a aceitar esses sentimentos, em vez de tentar eliminá-los, é essencial para nossa resiliência emocional.

    Como viver com presença pode quebrar o ciclo de insatisfação?

    Praticar o “mindfulness” pode ser uma grande mudança. Em vez de focar nos objetivos futuros ou fugir do que nos incomoda, a ideia é aprender a estar plenamente no agora. Essa prática nos ensina a observar nossos pensamentos e emoções sem julgamentos, nos libertando da necessidade de buscar prazeres externos constantes.

    Quando começamos a viver com mais presença, percebemos que sentimentos são temporários e não definem quem somos. Isso nos ajuda a encontrar satisfação e estabilidade emocional, mesmo sem depender de fatores externos. Com o tempo, essa prática pode transformar nossa maneira de lidar com a vida, permitindo que vivamos de forma mais equilibrada e plena.

    Que estratégias terapêuticas ajudam a sair do pêndulo?

    Existem várias técnicas que podem nos ajudar a interromper esse ciclo de desejo e tédio. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) nos ajuda a identificar e mudar pensamentos que limitam nossa felicidade, como a ideia de que precisamos de algo específico para sermos felizes.

    A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) foca na aceitação dos nossos sentimentos, ajudando a lidar com eles de forma saudável. Também é valioso praticar mindfulness, manter um diário e se engajar em atividades que reflitam nossos valores, em vez de apenas buscar realizações externas. Essa combinação fortalece nossa capacidade de viver com mais contentamento, independentemente das circunstâncias.

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