A testosterona é um hormônio que mexe bastante com o nosso comportamento social, e esse é o ponto central que o Dr. Paulo Muzy, ortopedista e especialista em medicina esportiva, traz à tona. Segundo ele, a testosterona não é responsável por criar agressividade, mas sim por amplificar padrões comportamentais que já existem. Isso significa que o ambiente em que estamos pode influenciar muito a forma como ela atua.

    De maneira prática, o Dr. Muzy usa o exemplo de macacos para explicar isso. Quando um macaco que ocupa uma posição média na hierarquia recebe uma dose alta de testosterona, ele não desafia os que estão acima dele. Em vez disso, ele tende a ser mais agressivo com os mais fracos. Ou seja, a testosterona aumenta a busca por status, que pode ser por poder ou empatia, dependendo do contexto.

    Por que a testosterona amplifica quem você já é?

    No caso do macaco C, que era mediano, ao receber testosterona, ele começou a intimidar os mais fracos, mas não se atreveu a desafiar os líderes. Isso acontece porque a testosterona reforça comportamentos que já estão latentes, não cria algo novo.

    Essa ideia se conecta à hipótese do desafio em primatas, que sugere que a testosterona se eleva em situações de competição ou ameaça à posição social. Nos humanos, o que se observa é que o hormônio é capaz de estimular comportamentos que ajudam a aumentar o status, podendo se manifestar tanto em atitudes dominantes quanto em gestos generosos, dependendo do ambiente.

    Testosterona é vilã ou heroína na generosidade?

    Pesquisas mostram que a testosterona pode até promover generosidade estratégica. Um estudo interessante revelou que homens com níveis altos de testosterona tendiam a punir ofertas injustas, mas também recompensavam atos generosos, tudo visando uma melhoria em seu status social. Em outra pesquisa, homens com mais testosterona fizeram propostas mais justas durante negociações, o que indica que essa substância pode incentivar uma reputação positiva, ao invés de apenas reações agressivas.

    Em ambientes empáticos, a testosterona pode aumentar a bondade?

    Com certeza! Quando o ambiente valoriza a empatia, o efeito da testosterona pode ser positivo, ampliando comportamentos bondosos. Pesquisas indicam que, se a generosidade é algo valorizado, a testosterona pode favorecer ações altruístas. Em resumo, ela funciona conforme o foco do “holofote” do ambiente: se a luz está voltada para a bondade, ela aumenta essa bondade; se vai para a agressividade, a tendência é acentuar comportamentos mais agressivos.

    A testosterona cria agressividade? É mito ou verdade?

    Dizer que a testosterona gera agressividade é um mito. Ela facilita a expressão de comportamentos dominantes em situações competitivas. O que realmente acontece é que a testosterona amplifica traços que já existem, principalmente quando estamos em busca de status. No caso dos humanos, as evidências sobre a relação entre testosterona e agressividade são variadas; muitas vezes, a agressividade surge em situações onde se busca dominância, mas não como um instinto fundamental.

    E a amígdala? O que faz nesse cenário?

    A amígdala é uma parte do cérebro que está ligada à nossa forma de reagir a estímulos sociais, e sua atividade pode ser influenciada pela testosterona e pelo status que percebemos. Estudos com primatas sugerem que a amígdala intensifica respostas agressivas a alvos específicos, e lesões nessa área diminuem essas reações. Então, a testosterona atua em conjunto com a amígdala e o contexto social, reforçando padrões que já estão presentes.

    O que isso significa para sua vida?

    O recado do Dr. Muzy é bem claro: a testosterona não deve ser vista como uma vilã. A questão vai além dela; precisamos refletir sobre os valores que a sociedade reconhece. Se queremos cultivar mais generosidade e empatia, é essencial valorizar esses comportamentos. Com isso, a testosterona pode nos ajudar a amplificar o que há de melhor em nós.

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