A ascensão do vinil: a volta emocional e econômica dos discos no Brasil

Uma das lembranças mais marcantes da minha infância é olhar a coleção de discos de vinil da minha mãe. Eu passava horas admirando as capas dos discos, soñando em ouvir as músicas que estavam ali. Naqueles tempos, ouvir vinil já não era tão comum, pois os CDs estavam tomando conta. Porém, quase vinte anos depois, consegui realizar meu desejo de criança ao dar uma vitrola de presente ao meu companheiro. Ele também ganhou a coleção de discos da sogra. Desde então, começamos a colecionar vinis juntos e sempre que temos oportunidade, colocamos a radiola para tocar.

O mais interessante é que essa tradição de ouvir vinil não só não desapareceu, como está voltando com força. É comum ver pessoas se reunindo para compartilhar experiências musicais com discos, e o público jovem está cada vez mais interessado no retorno do vinil. Essa nova onda de popularidade é inspiradora e mostra que o vinil ainda tem seu lugar na música.

Para entender melhor essa paixão pelo vinil, conversei com DJs que vivem essa cultura. Eles revelaram que, para eles, a magia do vinil se resume à emoção que ele traz. Por exemplo, Léu Com Léo, um DJ com pouco mais de um ano de experiência, comenta que tocar vinil é uma experiência completa. Ele ressalta que o processo exige atenção e cuidado. “O vinil tem um apelo estético muito forte, desde a capa até o som e o toque. Ele nos faz pensar mais sobre a música e ouvir com mais profundidade”, explica.

Vanessa Serra, que é DJ há nove anos, concorda com Léu e acrescenta que o vinil mexe com todos os nossos sentidos. Segundo ela, “o vinil é uma obra de arte que envolve o visual, o tato e o auditivo, não é só algo que ouvimos”. O detalhe é que ouvir vinil permite uma conexão maior com a música. Com cada chiado da vitrola, surgem conversas sobre o poder da música, criando laços entre as pessoas.

Léo também fala sobre como tocar vinil gera um laço afetivo. “As pessoas se interessam pelos discos, querem saber mais sobre o que está tocando. A capa e as informações dos álbuns geram curiosidade e tornam tudo mais interativo do que no digital, que às vezes parece mais impessoal”, observa. Para ele, cada troca de disco na vitrola é um momento especial que aproxima o DJ do público.

Vanessa complementa dizendo que um DJ deve sentir a energia da pista e do público. “Quando tocamos, precisamos perceber quem está ouvindo. A troca de energia é o que torna tudo especial”, destaca. Ela acredita que o vinil resgata a conexão entre as pessoas e reforça a identidade de cada um.

O crescimento do mercado de vinil

Os dados mostram que o amor pelo vinil não é apenas uma experiência pessoal. Um relatório sobre o mercado fonográfico no Brasil mostrou que, embora as vendas físicas ainda sejam uma parte pequena do total, houve um crescimento significativo em 2024. O aumento foi de 31,5%, resultando em R$21 milhões, o que representa o melhor desempenho desde 2017. O disco de vinil foi o responsável por esse crescimento, tornando-se a mídia física mais vendida no Brasil, com faturamento de R$16 milhões e alta de 45,6%.

Em São Luís, o cenário é semelhante. Paulo Moraes, que é músico e vendedor de discos na loja Brisa Discos, observa que a maioria dos clientes está composta por pessoas mais jovens, novas tanto em idade quanto no mundo do vinil. Ele também comenta que as feiras de discos estão atraindo cada vez mais pessoas e a procura por discos tem aumentado. Para muitos, o vinil é uma forma de reviver memórias e ouvir música de um jeito mais íntimo e especial.

Embora a Brisa Discos funcione apenas em formato digital, Paulo percebe a influência do vinil nas vendas. “O aumento nas vendas está ligado ao número de lançamentos em vinil. Novos artistas estão adotando o formato como uma maneira de conseguir melhores retornos financeiros, já que a remuneração por streaming é baixa”, afirma.

Quando questionei se o vinil poderia ser considerado um estilo de vida, a resposta de Paulo e dos outros DJs foi um sonoro “sim”. Após todas essas conversas, percebo que o disco não apenas retornou; na verdade, ele sempre esteve presente, girando e conectando pessoas através da música.