O consumo excessivo de álcool é um fator de risco significativo para a saúde do fígado. A doença hepática relacionada ao álcool é uma lesão no órgão causada pelo consumo exagerado de bebida alcoólica por um longo período.

    Na experiência de um enfermeiro que trabalha em uma clínica de recuperação em São Paulo, a quantidade de álcool consumido determina a possibilidade de uma lesão hepática e sua gravidade.

    O fígado é responsável pela metabolização do álcool, tornando-o vulnerável aos efeitos tóxicos dessa substância.

    O consumo regular de cerveja e outras bebidas alcoólicas pode causar danos ao fígado, desde alterações reversíveis até condições potencialmente fatais, afetando a saúde geral.

    Como o álcool afeta o fígado

    A metabolização do álcool pelo fígado pode produzir substâncias tóxicas.

    O fígado desempenha um papel crucial no processamento do álcool ingerido, utilizando um sistema enzimático específico para converter o etanol em acetaldeído, uma substância altamente tóxica.

    O processo de metabolização do álcool

    O fígado é responsável por metabolizar cerca de 90% do álcool consumido. Durante esse processo, são produzidas substâncias que podem causar estresse oxidativo e inflamação nas células hepáticas, levando a danos progressivos.

    O consumo crônico de álcool sobrecarrega o sistema de desintoxicação do fígado, comprometendo sua capacidade de regeneração e recuperação.

    Fatores que influenciam os danos hepáticos

    Fatores como sexo biológico, genética, estado nutricional e presença de outras doenças hepáticas influenciam diretamente a gravidade dos danos causados pelo álcool ao fígado.

    Além disso, o padrão de consumo de álcool também desempenha um papel importante na determinação da extensão dos danos hepáticos.

    Estatísticas sobre o consumo de álcool no Brasil

    Dados recentes revelam um cenário preocupante em relação ao consumo de álcool entre os brasileiros. O consumo excessivo de álcool é um fator de risco significativo para diversas doenças, incluindo aquelas que afetam o fígado.

    Consumo Médio por Pessoa

    Os dados mais recentes, referentes a 2020, indicam que o Brasil apresenta um consumo médio de álcool de 9,8 litros por pessoa anualmente.

    Este valor é considerado significativo e preocupante para a saúde pública, pois reflete um alto nível de ingestão de álcool.

    Esse consumo médio coloca o Brasil em uma posição de destaque em termos de consumo de álcool per capita, o que pode ter implicações graves para a saúde dos indivíduos e para o sistema de saúde como um todo.

    Frequência de Consumo entre Brasileiros

    O estudo “Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2023” do Centro de Informações sobre Saúde do Álcool (CISA) fornece insights sobre a frequência com que os brasileiros consomem bebidas alcoólicas.

    Segundo o estudo, 20% dos entrevistados consomem álcool uma vez por semana ou a cada 15 dias, enquanto 3% bebem cinco vezes ou mais por semana.

    Esses dados mostram que uma parcela significativa da população brasileira consome álcool com uma frequência que pode ser considerada de risco para a saúde, especialmente quando associado a quantidades elevadas de consumo.

    Fígado de quem bebe cerveja: transformações e danos

    O fígado de quem bebe cerveja frequentemente sofre alterações estruturais e funcionais progressivas, começando com mudanças metabólicas sutis que podem evoluir para danos permanentes.

    Alterações na estrutura e função hepática

    O consumo crônico de bebidas alcoólicas, incluindo a cerveja, sobrecarrega o fígado e compromete sua capacidade de metabolizar e eliminar o álcool. Isso pode levar a alterações na estrutura e função hepática.

    Inicialmente, ocorre o acúmulo de gordura nas células hepáticas, conhecido como esteatose, fazendo com que o fígado aumente de tamanho e perca sensibilidade.

    Embora muitas vezes assintomático, esse quadro representa o início de uma série de danos hepáticos.

    Quadros reversíveis e irreversíveis

    Os estágios iniciais de danos hepáticos, como a esteatose e a hepatite alcoólica leve, são considerados reversíveis se houver interrupção completa do consumo de álcool e adoção de hábitos saudáveis.

    No entanto, estágios avançados como a cirrose e o carcinoma hepatocelular são considerados irreversíveis.

    Embora a abstinência alcoólica possa desacelerar a progressão desses quadros e melhorar a qualidade de vida, é crucial buscar orientação médica para prevenir complicações.

    Esteatose hepática alcoólica

    A esteatose hepática alcoólica é uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado devido ao consumo de álcool.

    Essa condição é um problema de saúde significativo que afeta muitos indivíduos que consomem álcool em excesso.

    O que é e como se desenvolve

    A esteatose hepática alcoólica ocorre quando o álcool altera as funções das mitocôndrias no fígado, aumentando a síntese e absorção de ácidos graxos e reduzindo sua oxidação. Isso leva ao acúmulo de gordura nos hepatócitos, caracterizando a doença.

    A concentração de gordura no fígado que define a esteatose hepática alcoólica é de pelo menos 5% do peso total do órgão. Esse acúmulo de gordura é resultado direto do metabolismo do álcool.

    Sintomas e diagnóstico

    A maioria dos pacientes com esteatose hepática alcoólica não apresenta sintomas nos estágios iniciais, o que dificulta o diagnóstico precoce.

    Quando os sintomas aparecem, eles podem incluir aumento do volume do fígado (hepatomegalia), dor e sensibilidade no lado direito do abdômen, fadiga e icterícia.

    O diagnóstico é realizado através de exames de sangue, ultrassonografia, ressonância magnética ou elastografia hepática.

    Em alguns casos, a biópsia hepática pode ser necessária para confirmar o grau de comprometimento do fígado.

    Tratamento e reversibilidade

    A esteatose hepática alcoólica é considerada reversível com a interrupção completa do consumo de álcool.

    Além disso, a adoção de uma dieta equilibrada e a prática regular de atividade física ajudam a reduzir a quantidade de gordura no fígado.

    A mudança no estilo de vida é fundamental para o tratamento e reversão da doença. A interrupção do consumo de álcool é a principal medida para evitar o progresso da doença e promover a recuperação do fígado.

    Hepatite alcoólica

    O consumo excessivo de álcool pode levar a hepatite alcoólica, uma doença inflamatória do fígado.

    Esta condição é caracterizada por um processo inflamatório que causa lesões significativas no fígado, geralmente como resultado da evolução da esteatose hepática não tratada.

    Processo inflamatório e suas causas

    A hepatite alcoólica é desencadeada pela entrada de células inflamatórias no fígado, que causam lesões hepáticas.

    O álcool não apenas causa toxicidade direta às células do fígado, mas também facilita a absorção de endotoxinas e outros resíduos intestinais, estimulando citocinas inflamatórias e agravando o processo inflamatório.

    Manifestações clínicas

    Muitos casos de hepatite alcoólica são assintomáticos ou apresentam sintomas inespecíficos, como anorexia, náuseas e vômitos.

    Em quadros mais graves, podem surgir sinais como aumento do fígado, dor intensa, icterícia e até insuficiência hepática.

    Opções de tratamento

    O tratamento da hepatite alcoólica envolve a abstinência completa de álcool, manejo das complicações e suporte nutricional adequado.

    Em casos graves com insuficiência hepática, pode ser necessário o transplante de fígado como última alternativa.

    Fibrose e cirrose hepática

    A lesão hepática causada pelo álcool pode resultar em fibrose e cirrose, comprometendo a função do fígado. O consumo excessivo de álcool é uma das principais causas de doenças hepáticas graves.

    Formação de tecido cicatricial

    A formação de fibrose é resultado da resposta do fígado às lesões constantes causadas pelo álcool. As estruturas celulares tentam se recuperar, mas o depósito de tecido fibroso é maior que sua remoção, desequilibrando a remodelação da matriz extracelular.

    Sintomas e complicações da cirrose

    A cirrose caracteriza-se como uma lesão hepática crônica com presença de fibrose tecidual e alteração da estrutura normal dos nódulos, comprometendo a função dos hepatócitos.

    As complicações incluem ascite, encefalopatia hepática, hipertensão portal e sangramento no trato digestivo.

    Possibilidades terapêuticas

    As possibilidades terapêuticas para cirrose incluem abstinência total de álcool, tratamento das complicações específicas, suporte nutricional adequado e, em casos avançados, o transplante de fígado como única opção para restaurar a função hepática.

    Carcinoma hepatocelular: o risco extremo

    O carcinoma hepatocelular é uma das complicações mais temidas do consumo crônico de álcool. É um tipo de câncer maligno que surge como complicação da cirrose não tratada, representando um dos estágios finais da doença hepática e uma causa frequente de óbitos.

    Relação entre cirrose e câncer de fígado

    A literatura médica confirma a relação entre consumo excessivo de álcool, cirrose e carcinoma hepatocelular.

    Embora não haja evidências de que a ingestão crônica de bebidas cause diretamente o hepatocarcinoma, o metabolismo do álcool compromete a integridade do DNA, pois o acetaldeído, resíduo da síntese do etanol, é cancerígeno e causa mutações genéticas.

    Sinais de alerta

    Os principais sintomas do carcinoma hepatocelular incluem dor abdominal persistente, perda de peso inexplicada, identificação de massas abdominais, piora súbita da função hepática, aumento do baço e agravamento da ascite. Esses sinais indicam a progressão da doença hepática.

    Prognóstico e tratamentos disponíveis

    O prognóstico para pacientes com carcinoma hepatocelular avançado é reservado, com sobrevida limitada a poucos anos.

    O tratamento depende do estágio da doença e pode incluir ressecção cirúrgica, ablação por radiofrequência, quimioterapia e, em casos selecionados, o transplante de fígado como única opção curativa.

    Outros riscos do consumo excessivo de álcool

    O consumo excessivo de álcool está associado a uma série de riscos à saúde que vão além dos danos hepáticos.

    Além de afetar o fígado, o álcool pode causar problemas em outros sistemas do corpo, aumentando significativamente o risco de desenvolvimento de diversas patologias.

    Problemas gastrointestinais e pancreáticos

    A ingestão frequente de álcool pode desencadear lesões e inflamações no trato gastrointestinal, principalmente no esôfago e estômago.

    Isso pode causar sintomas como azia, dor na parte de cima do abdômen, refluxo e vômito. Além disso, o consumo de bebida alcoólica prejudica a secreção de ácido gástrico e o tempo de esvaziamento do estômago, afetando o processo digestivo e favorecendo a formação de úlceras.

    Distúrbios neurológicos

    A neuropatia periférica é um dos distúrbios neurológicos associados ao consumo crônico de álcool, afetando cerca de 10% dos consumidores crônicos.

    Essa condição causa formigamento e dormência nas extremidades devido à deterioração dos nervos das mãos e dos pés.

    Complicações cardiovasculares

    O consumo excessivo de álcool intensifica a liberação de hormônios do estresse, como cortisol, adrenalina e noradrenalina.

    O excesso desses hormônios estimula a contração dos vasos sanguíneos e aumenta a pressão arterial, levando à hipertensão e potencialmente a outras complicações cardiovasculares.

    Como proteger seu fígado e sua saúde

    Proteger o fígado é uma jornada que começa com escolhas diárias conscientes. Evitar problemas no fígado é mais fácil do que parece, e com disciplina e comprometimento com a própria saúde, é possível manter esse órgão vital em boas condições.

    A moderação ou, idealmente, a abstinência do consumo de álcool é o primeiro passo para proteger o fígado, pois a Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que não existe dose segura para a saúde em relação ao consumo de bebidas alcoólicas.

    Além disso, a hidratação adequada é fundamental, e beber bastante água ao longo do dia ajuda na eliminação de toxinas.

    Uma alimentação balanceada rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras fornece nutrientes essenciais para o funcionamento adequado do fígado e ajuda a prevenir o acúmulo de gordura no órgão.

    A prática regular de atividade física também é crucial, pois contribui para a manutenção do peso saudável e melhora o metabolismo, reduzindo o risco de esteatose hepática não alcoólica.

    O uso responsável de medicamentos, seguindo as prescrições médicas, é essencial para evitar hepatotoxicidade medicamentosa.

    Exames periódicos de saúde são importantes, especialmente para pessoas com histórico familiar de doenças hepáticas ou que consumiram álcool por longos períodos.

    Em caso de diagnóstico de doença hepática, a adesão completa ao tratamento recomendado é fundamental.

    Imagem: canva.com

    Rafaela Madureira Leme

    Graduada em Computação pela UFRJ, Rafaela Madureira Leme atua como redatora sênior no AdOnline.com.br aos 25 anos. Dev frontend e entusiasta de UX, traz sua experiência em design e programação para o conteúdo digital.