Home » Quem é Santa Luzia no Candomblé? Conheça o sincretismo com o Orixá Ewá!

    No Candomblé, Santa Luzia é sincretizada com a Orixá Ewá. Ewá é a deusa da vidência e também está ligada ao nevoeiro. Na tradição católica, Santa Luzia foi uma jovem italiana da Sicília, morta em perseguições a cristãos no século III.

    Para os adeptos do Candomblé, Ewá é irmã de Oxumarê. Seu nome significa “do rio” na língua iorubá, e por ser virgem, é vista como a protetora da pureza. Vamos explorar a conexão entre essas duas figuras que têm um lugar especial nas tradições afro-brasileiras.

    Fundamentos do sincretismo entre Santa Luzia e Ewá

    O sincretismo entre Santa Luzia e Ewá tem suas raízes na relação entre suas vidas. Luzia é considerada a padroeira dos deficientes visuais, enquanto a Orixá possui o dom da visão. Ambas viveram na castidade. Vamos entender melhor essa união.

    O que é sincretismo?

    Primeiro, é importante saber que durante a escravidão, os africanos eram proibidos de praticar suas religiões. Para manter suas crenças, eles começaram a usar altares com santos católicos, misturando suas divindades africanas a essas figuras.

    Assim, cada Orixá encontra um santo católico semelhante. Essa união entre elementos de diferentes religiões é o que chamamos de sincretismo. Por exemplo, Santa Luzia é sincretizada com Ewá. Apesar de disfarçados, os fiéis enfrentavam perseguições e eram acusados de práticas não permitidas.

    Relação entre o sincretismo e a colonização

    O sincretismo é a fusão de várias doutrinas. Assim, surge com o pluralismo cultural. Entre os séculos 16 e 19, a comunicação e o transporte eram lentos e poucos tinham acesso. Com a escravidão, o aumento do comércio de escravos impulsionou essa mistura cultural.

    A proibição das religiões africanas gerou a fusão de crenças diversas, formando os sincretismos religiosos que conhecemos hoje.

    Outros sincretismos conhecidos

    O sincretismo aconteceu em diversas ocasiões, como em guerras e colonizações. Às vezes, essa união ocorre naturalmente, como quando crenças se tornam proibidas. Um exemplo na Europa foi a absorção de culturas pagãs pela Igreja católica na Idade Média.

    No Brasil, o sincretismo se estabelece principalmente entre religiões africanas e a católica. Além de Santa Luzia e Ewá, aqui estão outros exemplos:

    – Exú – Santo Antônio;
    – Oxalá – Senhor do Bonfim;
    – Ogum – São Jorge;
    – Oxóssi – São Sebastião;
    – Xangô – São Pedro;
    – Omulú – São Lázaro.

    Conhecendo mais sobre Santa Luzia

    Compreendendo o sincretismo, vamos falar mais sobre Santa Luzia, a vidente e padroeira de Mossoró.

    Origem e história

    Santa Luzia, também chamada de Lúcia, nasceu no século III em Siracusa, na Itália. Ela vinha de uma família rica e, por isso, teve acesso a uma educação sólida.

    Na infância, Luzia perdeu o pai e, com a morte dele, sua mãe passou a ter sérias hemorragias. A fé de Luzia cresceu nessa fase, e em um transe, ela fez uma promessa pela cura da mãe.

    Ao voltar do transe, Luzia disse à mãe sobre o encontro com Santa Águeda e sua promessa. A mãe se curou e aceitou a promessa da filha.

    Com isso, a fortuna da família foi doada aos necessitados. Como resultado, Luzia foi denunciada ao governador por ser considerada herege. Isso marcou o início do seu martírio, que culminou em sua decapitação em 304.

    Características visuais

    As representações de Santa Luzia incluem objetos e símbolos que têm significados especiais. Sua vestimenta é relevante – a túnica vermelha representa seu martírio, enquanto a parte verde simboliza a vida após a morte.

    Além disso, o véu branco que usa simboliza sua pureza. Um dos objetos mais marcantes é a bandeja contendo seus olhos. Segundo a fé católica, o imperador mandou arrancar os olhos de Luzia como punição, mas milagrosamente, eles nasceram ainda mais bonitos.

    O que a Santa Luzia representa?

    Para os católicos, Santa Luzia é um exemplo de bondade e generosidade. Ela vendeu tudo que tinha para ajudar os pobres. Representa também o amor por Jesus.

    Mesmo enfrentando torturas e tendo seus olhos arrancados, Luzia manteve sua fé e não se deixou abater. Antes de morrer, afirma: “Adoro um só Deus verdadeiro.”

    Devoção

    Tanto na fé católica quanto no Candomblé, Santa Luzia simboliza muito. Sua devoção começou no século V, quando milagres foram atribuídos a ela, principalmente na cura de doenças oculares.

    Com o passar dos séculos, sua importância variou entre os ritos da Igreja. No século XI, suas relíquias foram enviadas para Constantinopla e, em 1204, um devoto as trouxe de volta.

    Em 1894, foi confirmado o martírio de Luzia com a descoberta de uma inscrição em grego em seu sepulcro, que atesta sua morte no século IV. A festa de Santa Luzia é celebrada em 13 de dezembro, dia em que ela faleceu.

    Oração à Santa Luzia

    Ó Santa Luzia, que preferistes deixar que os vossos olhos fossem vazados e arrancados antes de negar a fé e conspurcar vossa alma; e Deus, com um milagre extraordinário, vos devolveu outros dois olhos sãos e perfeitos para recompensar vossa virtude e vossa fé, e vos constituiu protetora contra as doenças dos olhos, eu recorro a vós para que protejais minha vista e cureis a doença dos meus olhos.

    Ó, Santa Luzia, conservai a luz dos meus olhos para que eu possa ver as belezas da criação. Conservai também os olhos de minha alma, a fé, pela qual posso conhecer o meu Deus, compreender os seus ensinamentos, reconhecer o seu amor para comigo e nunca errar o caminho que me conduzirá onde vós, Santa Luzia, vos encontrais, em companhia dos anjos e santos.

    Santa Luzia, protegei meus olhos e conservei minha fé!
    Amém.

    Conhecendo mais sobre o Orixá Ewá

    A Orixá Ewá, representada através do sincretismo religioso com Santa Luzia, é considerada a deusa da intuição e da vidência. Vamos saber um pouco mais sobre essa deusa, símbolo de beleza e sexualidade.

    Origem e história

    Ewá, na religião afro-brasileira, é filha de Nanã Buruquê e Oxalufã, e irmã de Oxumarê, Ossaim e Omulú – Obaluaê. Sua devoção começou na Nigéria, no Estado de Ogun, atravessado pelo rio que leva seu nome.

    A história de Ewá começa quando ela estava lavando roupas no rio e ajudou um homem a escapar da morte, escondendo-o em uma gamela. Esse homem era um Ifá, um oráculo que se apaixonou e lhe ensinou a vidência. Porém, Ewá não aceitou se tornar sua esposa.

    Além do dom da vidência, Ewá também rege a neblina. Um dia, Xangô, atraído pela beleza dela, tentou conquistá-la. Ele dançou no nevoeiro, mas Ewá debochou dele, deixando claro que era ela quem governava ali. Assustado, Xangô viu que estava dançando em um cemitério, lugar que teme. Assim, nunca mais a incomodou.

    Por fim, Ewá é uma mulher guerreira, que não teme a morte. Aqueles que a desafiam normalmente se perdem na vida e não encontram o caminho certo.

    Características visuais

    Visualmente, Ewá é representada como uma mulher exótica, vestindo roupas em tons de amarelo, vermelho e rosa, com adornos vermelhos. Ela aparece frequentemente com certos objetos, como um arpão, uma espingarda, uma palmeira de leque e uma cabaça.

    Dia e outras características de Ewá

    Graças ao sincretismo com Santa Luzia, o dia de Ewá é celebrado em 13 de dezembro. Em todos os terreiros, são feitas muitas oferendas e pedidos a ela nesse dia. Além disso, os dias da semana têm importância na fé afro-brasileira, e a terça-feira é especial, pois representa um momento de força para Ewá.

    Relação de Ewá com outros Orixás

    Ewá é uma Orixá que se manifesta através de diferentes arquétipos e formas. Aqui estão alguns exemplos de suas diferentes facetas:

    – Ewá Gebeuyin: nas chuvas intensas, vira uma serpente azul, ligada a Omulu, Oyá, Omulu e Oxum.
    – Ewá Bamio: senhora das pedras preciosas, junto com Ossain;
    – Ewá Fagemy: deusa do arco-íris, associada a Oxalá e Oxum;
    – Ewá Gyran: deusa dos raios solares, correlacionada com Omulu, Oxóssi e Oxum;
    – Ewá Awo: senhora dos búzios, junto com Oxóssi, Oyá e Ossain;
    – Ewá Salamim: senhora das matas e guerreira, ligada a Odé e a Yemanjá.

    Essas múltiplas facetas refletem a personalidade de Ewá.

    Oração a Ewá

    Senhora do céu rosado, senhora das tardes enigmáticas; senhora das nuvens carregadas, esteira do arco-íris.
    Senhora das possibilidades, vantagens e caminhos, encantamento e beleza, alegria e felicidade.

    Senhora das brumas, dissipe as nuvens dos meus caminhos; ó poderosa princesa!
    Invoque as forças dos ventos a meu favor, que a chuva me cubra de prosperidade, que sua coroa cubra meu destino; ó princesa-mãe do oculto!

    Que eu seja seu filho perdido e bendito, em suas graças; que a névoa que existe hoje em meus passos seja límpida no amanhã!
    Que assim seja!
    Rirô Ewá!

    Sincretismo entre Santa Luzia e Ewá

    O sincretismo com Santa Luzia no Candomblé surgiu devido à proibição enfrentada pelos escravizados de praticar sua fé. Mesmo correndo riscos, eles mantiveram seus cultos.

    Assim, escolheram santos católicos com características semelhantes a seus Orixás. Essa ligação reflete o sincretismo entre as crenças africanas e o catolicismo. Vamos explorar as semelhanças, diferenças e os pontos que alguns rejeitam no sincretismo.

    Semelhanças

    As principais semelhanças entre Ewá e Luzia são o dom da vidência e a recusa de se entregar a homens. Essas características foram fundamentais para que o sincretismo fosse adotado como forma de proteção nas senzalas, associando Ewá a Santa Luzia no Candomblé.

    Distanciamentos

    Ainda que haja semelhanças, Santa Luzia e Ewá têm suas diferenças. Ambas possuem características distintas e suas personalidades são bem diferentes. Luzia foi uma mulher dedicada e ingênua em sua fé, enquanto Ewá é astuta e esperta.

    Recusas ao sincretismo

    Embora o sincretismo tenha sido necessário para preservar as tradições africanas, alguns praticantes de religiões afro-brasileiras não veem mais necessidade dessa ligação com os santos católicos.

    Para eles, o sincretismo é uma lembrança da escravidão, e acredita-se que seja hora de seguir em frente, sem essa conexão com o passado.

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    Afinal, o sincretismo entre Santa Luzia e Ewá é válido?

    Essa é uma questão complexa. Sincretismos ocorreram na história, mas a diferença aqui é o recente período desde a escravidão. Não houve tempo suficiente para uma distância histórica do que aconteceu.

    Ao analisar as visões sobre o sincretismo, podemos ver que tanto os defensores quanto os opressores têm argumentos válidos. O debate continua sendo rico e necessário.

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